A preparação duma época envolve diversos ângulos de ação / decisão no sentido da construção duma equipa para atingir objetivos, que seja competitiva a jogar bem. Procura-se o início da construção dum processo, esse pede projeção, organização e estabilidade nesta fase inicial. O objetivo é criar uma Cultura competitiva de trabalho, com hábitos positivos de ser / estar em equipa, de representar o Clube, num alinhamento claro entre a liderança do Clube (Direção), o Departamento de Futebol (Diretor Geral e Direção Desportiva) e a Equipa Técnica.

1 A construção do plantel e da proposta de jogo

O período preparatório começa a preparar-se durante a época anterior com o objetivo de projetar a equipa para a época seguinte o mais cedo possível. A definição do perfil de necessidades da equipa em função do estilo de jogo que se pretende implementar irá entroncar nos jogadores referenciados pelo Departamento de Scouting.

Até ao fecho do mercado de transferências poderão haver mudanças programadas ou negócios de oportunidade que poderão influenciar o plano, promovendo ajustes nas ideias. Cabe ao Clube ter em média 3 alternativas viáveis que possam suprimir as lacunas para que o decurso da pré época seja o mais estável possível. Neste grupo de soluções temos as externas e as internas, com origem na formação, equipa sub23 / B com um grupo de jogadores previamente projetada para integrar a pré época em observação fazendo parte da equipa principal e da sua equipa de origem (quando a qualidade justifica sobem logo o escalão sem perder a possibilidade de “jogar abaixo senão forem utilizados acima”).

Este é o ponto de partida para a época. Um plantel bem preparado (nos momentos de bola corrida e parada), com soluções em qualidade e quantidade, responderá melhor às necessidades competitivas. A construção da proposta de jogo (que está em constante desenvolvimento) nasce nos jogadores que constituem o grupo, sendo o conhecimento mais aprofundado possível das suas características um dos grandes objetivos neste período. A análise prévia, as reuniões (informais / formais) e outras atividades permitirão aos técnicos em conjunto com todo o staff conhecer os jogadores e como melhor se ligarão entre todos, no sentido da criação da ”Família.”

Há questões de base a fazer para construir a ideia:

  • Que guarda redes temos? Lideram? Têm capacidade ofensiva? Controlam o espaço aéreo?
  • Tenho defesas rápidos que atacam bem? Os laterais podem jogar profundos?
  • Tenho médios intensos, agressivos e profundos? Como é que ligam melhor as linhas? Quem é que o faz com qualidade?
  • Que tipo de avançados temos? Há jogadores para romper para o espaço? São fortes na reação à perda? Pressionam bem?

2 Plano e a seleção de adversários

O projeto da ideia de jogo e da construção da equipa terá uma influência determinante na seleção e calendarização dos adversários (como vemos na foto acima). Objetivo central é ter o treino e o jogo como meios de desenvolvimento do modelo, permitindo aos jogadores um aumento progressivo da capacidade competitiva. No fundo pretendemos “jogar em organização e intensidade” em tempos progressivos.

Com o conhecimento inicial do plantel é importante definir prioridades na construção dos treinos. Existem muitos pontos de partida (1º organização defensiva e transição ofensiva, …), no entanto acredito que identificando bem as características dos jogadores será importante começar pela “impressão digital do treinador”. O objetivo será passar desde o início uma mensagem clara do que se pretende implementar e que será a imagem de marca da equipa enquadrando bem a qualidade existente no grupo, para que os jogadores  “identifiquem o jogo como seu.”

Daqui passamos para o planeamento de treinos, estágio, refeições, reuniões, jogos e outras atividades. Este é feito numa base semanal e inclui 2 momentos distintos. A pré época inicia com 2 a 3 dias de examesmédicos e alguns testes físicos. Iniciamos o período das duas primeiras semanas no campo, com uma preocupação clara de progressividade. A terceira semana marca a entrada no microciclo tipo, seja com um ou 2 jogos.

Deve haver uma quantidade de jogos de preparação suficiente para que haja um aumento progressivo na utilização dos jogadores envolvendo o princípio de “igualar tempos de jogo”. Queremos construir uma equipa competitiva, ligada, em que todos participam e têm um papel a desempenhar para que se possa chegar ao primeiro jogo oficial com o grupo aglutinado para ganhar. As épocas estão cada vez mais densas e longas, pelo que é determinante ter os jogadores preparados para jogar a todo o momento.

Este período envolve a aquisição de rotinas profissionais dentro e fora do campo. Desde o exercício de treino à análise de jogo, passando pela prevenção de lesões, pelos procedimentos do departamento médico, refeições, suplementação, treino mental, … tudo conta até aos hábitos do dia mais importante das semanas, o do Jogo!

3 O exercício de treino, o desenvolvimento da equipa e dos jogadores

A construção dum estilo de jogo é sustentado pelo treino, pelos hábitos criados na repetição sistemática dos objetivos. Um dos desafios para os treinadores é estabelecer prioridades sobre o que pretende treinar (bola corrida e parada). Esta fase da época é decisiva para avaliar e dar início ao desenvolvimento individual do jogador.

Neste plano existem formas de intervenção diferenciadas em função dos contextos onde os atletas se inserem (equipa principal, B, sub23, sub19). É fundamental que Clubes / Equipas Técnicas trabalhem com alinhamento para definir os melhores contextos de desenvolvimento a cada  momento em função dos objetivos competitivos de cada equipa para que os jogadores se sintam valorizados e, se possível possam manter a relação positiva entre treino de alta qualidade e tempo de jogo.

No caminho do desenvolvimento todos os detalhes contam. Termino como comecei, planear uma pré época é implementar uma Cultura de Treino e de Jogo, construir uma Equipa alicerçada em hábitos positivos de trabalho, num ambiente em que todos os profissionais (jogadores e staff) se expressem no seu melhor, no seio do Clube “ da Família.”